Uma chamada no Jornal "O GLOBO" de hoje, 4 de maio de 2011, e publicado no blog do jornal http://oglobo.globo.com/blogs/gramanacal
No jornal "O Globo", a chamada para a entrevista |
Vida de jogadora: goleira de 16 anos fala sobre paixão pelo futebol
Mas nem a falta de investimento no futebol feminino no Brasil, nem o preconceito e muito menos a árdua rotina de treinos desanima Flavia, que conta com o apoio da família nas horas mais difíceis. Desistir? Ela jura que nunca pensou nessa possibilidade.
A história começou mais ou menos assim: aos 5,6 anos, ela saía de casa para jogar futebol com os meninos. Três anos depois, um técnico a convidou para jogar oficialmente num time masculino. Em 2008, esse mesmo treinador a levou para jogar no núcleo do Vasco na cidade e, mesmo entre os meninos, ela foi eleita a segunda melhor atacante do campeonato. Apenas em 2009, Flavia começou a jogar com outras meninas, em Juiz de Fora. E foi aí que as coisas começaram a mudar...
A primeira mudança foi de cidade. Depois de passar pela peineira do Palmeiras, Flavia trocou Minas Gerais por São Paulo. Em julho do ano passado, a menina que jogava como meia foi substituir a goleira durante um treino e, desde então, assumiu a camisa 1.
Por falta de incentivo, o time feminino do Palmeiras acabou, mas o sonho de Flavia continua. Agora, ela disputa o campeonato sub-17 pelo Centro Olímpico (COTP). Ah! E ela também anda arriscando uns passos na carreira de modelo.
Leia o bate-bola rápido com a jovem promessa:
GRAMA: Como contou para sua família que queria ser jogadora? Teve algum preconceito?
FLÁVIA: Tem uma frase que minha mãe me disse que eu carrego comigo: "Minha filha, contra o preconceito, faça gols na vida!" Preconceito é uma palavra que nunca conheci de perto. Minha família é muito fã, do tipo que chora, grita, dá vexame. Desde o início fui muito incentivada. Se houvesse chance, eu teria começado a treinar ainda mais cedo. Minha mãe queria que eu fosse jogar bola no time dos meninos, mas só aos 9 anos tive a oportunidade. E minha família ia pros meus campeonatos na "roça" torcer com a mesma alegria que foram pro Pacaembu, pelo Palmeiras, no final do campeonato.
GRAMA: Como é a rotina de treinos e como concilia com a escola? FLÁVIA: Saio de casa as 6h pro colégio, almoço na rua, e vou pro Centro Olímpico (COTP). Treino a tarde toda até 19h, 19h30m. Chego em casa exausta por volta de 21h e vou ver as tarefas da escola. Além disso, recebi alguns convites pra modelar e ando fazendo alguns testes. É mais uma coisa, mas não dedico muito (nunca foi meu sonho). Fiz porque recebo muitos convites. Quase não dá pra sair com amigos. Namorar. então, não dá tempo também. De vez em quando, uma paquera, mas é raro mesmo. Pelo futebol acabei abrindo mão dos meus amigos de Mar de Espanha porque vim pra São Paulo de um dia pro outro, praticamente. Sinto falta deles. Abri mão também da minha vida social, até sinto falta sim, mas nada que me abale. Estou plenamente feliz. Amo jogar futebol, é o que sempre quis a vida toda. Vou driblando a saudade e sigo muito focada nos treinos. Isso é o que me move.
GRAMA: Quais são seus ídolos no futebol masculino e no feminino? FLÁVIA: No futebol há duas coisas que me fazem admirar um atleta: desempenho e postura. No feminino, admiro o trabalho da Andreia Suntaque, goleira do Santos, que, com mais de 30 anos continua sendo incrível. A Marta dispensa explicações. Só podemos nos ajoelhar diante dela e venerá-la para sempre. No masculino, eu reverencio Zico, admiro o Kaká e os goleiros Julio Cesar e Marcos. Pode ser estranho porque o Zico não é da minha geração, mas, naturalmente, já vi vídeos e tudo o que se fala dele é o que eu quero pra mim. Fui criada para ser uma atleta. Se um dia for profissional, quero que as crianças possam ter um bom exemplo dentro e fora do campo. Acho muito tristes certas notícias que saem sobre os jogadores na mídia. Penso que o ídolo tem muita responsabilidade com o modelo, com o que projeta para os jovens.
GRAMA: Que conselho daria para quem quer jogar futebol? FLÁVIA: Nós, mulheres, jogamos futebol por amor a camisa ao pé da letra quase. Todo mundo sabe que o futebol feminino não tem apoio no Brasil, por ironia, no país do futebol. Mesmo as pouquíssimas jogadoras que recebem os melhores salários, recebem cifras ridículas comparadas ao que ganha um jogador na mesma condição. Eu tenho 16 anos, e não tenho certeza de que essa realidade possa mudar a tempo de eu tirar proveito dela. Pra mulher jogar futebol no Brasil, tem que ser assim, apaixonada. E além da paixão, é preciso muita disciplina, dedicação e foco, não pode perder o foco.
GRAMA: Acredita que vai dar para seguir a carreira de jogadora e ganhar dinheiro? FLÁVIA: É muito imprevisível apostar nisso. Eu não fico esperando, prefiro estudar e cuidar muito bem desse lado. O futebol feminino está sendo mais reconhecido, mas tudo ainda é muito lento aqui. Na Europa, nos EUA, na Ásia, na África é completamente diferente. Os estádios lotam, os patrocinadores investem, os governos apoiam, a mídia promove. Eu não sei porque o Brasil, que é um país tão rico em talentos futebolísticos, está tão atrasado. Se não der tempo pra mim, espero que dê pra minha irmãzinha Gabi (de 2 anos). Espero que quando ela tiver a minha idade, já possa jogar futebol numa outra realidade, outra dimensão.
Quem quiser, pode acompanhar a vida da Flavia pelo blog:
http://guedesflaviaguedes.blogspot.com
Quero colocar minha satisfação de ter você Flávia no meu blog. Sua é como das minhas meninas, hoje treino somente no sábado de 14:00 às 17:00h, e tenho que fazer milagre para passar parte física e técnica. E geralmente faço tudo junto ao mesmo tempo, para garantir um treino melhor.
ResponderExcluirEstou em período de campeonato, e tudo esta sendo muito corrido. mais confesso do fundo do meu coração que eu amo o que faço, e sei muito bem o que você e minhas meninas sentem com relação ao futebol feminino. Parabéns pela luta e perseverança, e nunca se abale com o que falam em relação ao seu tempo. O importante você estar sempre feliz. Um beijo no coração.
Ale Amaral
Oi Flavia adorei seu blog, se puder conhecer nosso site agradeço gostariamos de colocar novos talentos femininos como você tambem.
ResponderExcluirwww.olheirodigital.com.br
abs
Guilherm Lima