Conhecidamente obstinada até a raiz dos cabelos, não foi à toa que sua mãe, Leda Guedes, se inspirou numa frase de Clarice Lispector em homenagem a Chico Buarque, e adaptou-a à sua filha:
Além de esbanjar talento e beleza nos gramados, Flavinha, como é chamada, também esbanja sorte: jamais sofreu qualquer tipo de discriminação, tão comum entre as jogadoras de futebol, hostilizadas por causa do machismo que, infelizmente, ainda impera em nosso país.
Mineira de Mar de Espanha, Flavia Guedes começou a jogar aos nove anos de idade, num time de futebol de meninos de sua cidade natal. Já foi meia e atacante, antes de se tornar a atual goleira do São José. Sua trajetória teve início em 2009, no Benfica; em 2010, jogou pelo Palmeiras; de 2011 a 2012, jogou no Centro Olímpico; e, desde o início de 2013, joga no São José, como goleira, posição que vem ocupando há três anos.
Nossa goleira raçuda também estuda Engenharia, outro sonho, que corre em paralelo com o de ser jogadora .
Leticia Sardenberg - Quando surgiu o interesse pelo futebol?
L.S. - Qual foi a postura de sua família com relação à sua decisão de jogar futebol?
F.G, - Eu sempre tive total apoio e incentivo da minha família. Eles sempre me acompanharam, mesmo quando pequena, nas peladas, com a mesma alegria e torcida de hoje, quando vão ao estádio. Nunca, em tempo algum, ouvi de nenhum deles que futebol não era coisa pra menina. Pelo contrário. Foi minha mãe que procurou por peneiras em São Paulo e me trouxe pra cá, para que eu pudesse realizar o meu sonho. Não conheci o preconceito, nunca o vi de perto.
L.S. - Quais são as maiores dificuldades que as atletas de futebol feminino têm que enfrentar?
F.G. - A maior dificuldade no Brasil é a falta de patrocínio. Se nós tivéssemos mais apoio neste sentido, é certo que teríamos uma estrutura e condições de treinar e jogar muito melhores. Temos que ter uma profissão paralela, porque, dificilmente, uma mulher pode ser jogadora de futebol no Brasil em tempo integral. E, ainda assim, nosso país é berço da melhor do mundo cinco vezes, inigualável, e de muitas outras jogadoras de talento, que não chegam a ser tão conhecidas por causa desta carência. Agora mesmo, estamos em busca de patrocínio para uma competição muito importante, na categoria Sub-19. Nosso time tem grande destaque nas competições, e estamos nos dedicando potencialmente a este campeonato, dependendo de encontrar o patrocínio para irmos em busca do título tão almejado.
L.S. - Na sua opinião, a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Brasil, podem fortalecer o futebol feminino?
F.G. - Nós esperamos que sim, em especial, as Olimpíadas - é um bom momento em que falam da modalidade. Mas não é o único. Há outros campeonatos importantes, como os Mundiais, tanto na categoria profissional quanto na de base, como, por exemplo, a Copa do Brasil; a Libertadores; o Sul-Americano.
É fundamental que façam investimentos no futebol feminino, e que a mídia mostre mais as competições. O Brasil tem muitas jogadoras geniais despontando a todo instante nas equipes de base fortes, como o São José e o Centro Olímpico, entre outras.
Vai com tudo, Flavinha Guedes! Todos nós torcemos por você!!!
Por Leticia Sardenberg, autora do infantojuvenil "Minissaia, batom & futebol", da Zit Editora
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